sábado, fevereiro 04, 2006

O pequeno homem que não estava lá 4

Tudo é lento e silencioso. Um espelho dágua que se recusa a ser agitado. Sempre que um grita, o mundo vem e lhe pôe o dedo indicador, selo, sobre os lábios. As pessoas me desaprendem, me descascam da minha sabedoria, como os anos fazem a uma pedra com destino de areia. De que adianta meu pulso coçar e suar, se há um relógio muito maior, tão grande que é imperceptível o andar do ponteiro de seus segundos? Deus conta o tempo em homens que viram areia. Quando ele olhar para mim, já terei sido soprado, um resto de presença que pulsa cada vez menos. Deus desfaz a minha existência. Eu cresci ao contrário. Eu existi desde sempre antes do meu nascimento mas, quando eu morrer, nunca terei pisado este chão.