sexta-feira, novembro 25, 2005

O pequeno homem que não estava lá 2

Quem me viu chegar voando deixou as orações resvalarem baixinho nos lábios e deu abraço ao vento para, quem sabe, voar também. Quem me viu descer, mirando a terra, prendeu o fôlego, com medo que o chão me confrontasse, hostil. Quem me viu pousar sem ferir o solo lembrou de cantigas de faz tempo, dessas que fazem crianças levitarem. Quem me viu olhar, curioso, o redor lembrou de livros que falavam das plagas de onde eu vim. Quem me ouviu falar certificou-se de que eu usava sua língua como quem veste uma roupa nova e sai para o passeio. Quem se aproximou e viu o reflexo de tudo lavar os meus olhos entendeu que o mundo mal podia esperar para por as mãos sobre mim. Quem viu a gravidade me destruir, como deus devora, faminto, uma estrela, ainda jura que eu sorria.

Sem comentários: