domingo, agosto 21, 2005

Borrow somebody's dreams 'till tomorrow 6

Com aquele semblante de quem tudo sabe, inclusive tudo o que lhe foge do conhecimento, ele disse. "No princípio, deus não conseguiu criar nada, nem mesmo um grão de areia, nem mesmo a idéia de um grão de areia. Lançava as mãos, os dedos em garras à frente, mas nada nascia do seu gesto. Foi depois de uma eternidade - e para deus todo segundo é uma eternidade - que ele entendeu. Deus, então arquiteto de um barro inexistente, criou a palavra e com ela ergueu sua obra. Tudo o que pensava era o nome, bastava-lhe gritar a denominação e a coisa surgia por conta própria, o universo escapando-se dos próprios bolsos. Imagine, então, a ledice de uma outra eternidade, um deus sorridente, divertindo-se de criar e gritar nomes, espantando-se da concretude de sua própria criação."

"E pense, ainda, na solidão da primeira letra - a eternidade dentro do segundo, lembra? - que, por um tempo imensurável, a nada podia conceder nome ou corpo. Ela mesma um deus solitário, com um alarido interno, que era um universo à procura de uma forma."

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