terça-feira, agosto 09, 2005

Há um dia numa noite

Eu nem sempre fui de noite, nem sempre cobri o sol com as mãos e segui os desenhos das calçadas. Foi o meu presente o nervo mastigado, o mal entranhado, borbulhando o sangue, o verde sob a terra. Em algum ponto, eu passei a dormir do lado de fora, sob a minha janela, espreitando a fala das lâmpadas, dando de ninar à cidade. Um dia, talvez na sombra de uma falésia ou na morte de um rio, eu branqueei os cabelos da minha infância e afoguei um menino. Mas, há um sonho no qual eu me dispo dos anos, em que eu abro as mãos generosas da minha vista e recebo a luz, como um fantasma de sol num dia de roupas largas. Nele você dança sem gestos e pousa sobre mim, como já fez um dia, a pluma dos seus olhos, fronha da minha quietude.

Sem comentários: