quarta-feira, abril 06, 2005

Cadeia

Há peixes que nadam no fluxo - ou no leito estático? - do tempo. Sim, porque o tempo tem nós, reentrâncias, locas. E, se movimenta-se, o faz em torno do seu próprio marco, como alguém que caminha pelas paredes de um quarto sem janelas.

São esses os mesmos peixes que trafegam no meu - no seu? - sangue, que, por um tobogã de veias, buscam o coração, e lá esperam para serem novamente alçados, por uma pulsação ordinária, de volta ao vagar sem objetivo. Eles compõem o líquido que é o silêncio do corpo. Até o dia em que a máquina se despede do seu labor.

O tempo dá voltas em si mesmo, numa única pulsação infinitamente estensível, repetindo nomes, rostos, erros. O tempo deixa um rastro no seu próprio sulco, induzindo-nos a pensar que os fatos decorrem de outros. Um segundo como conseqüência do anterior. Como se o trespasse de uma lâmina brilhante pudesse, realmente, interromper o ofício de um coração, espalhando o seu silêncio pelo chão.

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