domingo, abril 17, 2005

Tratado do mundo inverso

Minha casa repousa dentro das paredes da vista. É ali onde transito, por trás dos quadros, interruptores e espelhos. Sou eu que posso esticar os segundos, segurando-os pelas orelhas, como crianças colhidas em faltas. Arranco da noite fotografias do seu lado avesso, do mar desapercebido que inunda as ruas, transformando avenidas em correntes. Adivinho histórias repetidas nos rostos transeuntes. Atos num palco, sinais num sonho.

Por isso, não registrei seu nome antes da terceira vez que ela o repetiu. Reconheci nele todos os nomes - no seu rosto, todas as outras faces - que nadavam no mar indiviso que afogava uma cidade erguida sobre falésias.

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