terça-feira, julho 12, 2005

Dentro e fora

Eu acordava no sonho com o barulho angustiado de um morcego, ou um pássaro da noite, debatendo-se contra a janela fechada do meu quarto. Asas e garras reclamando o vidro, chorando o frio da noite lá fora, um vulto agitado, multiplicado pelo movimento, mal delimitado pela fraca luz externa. Eu levantava, o passo frouxo, até o interruptor pretendendo empurrar com a claridade o animal de volta a seu lar feito de madrugada. Mas a lâmpada acesa desenhou, através do vidro, o rosto e as palmas das mãos de uma criança morta.

Eu acordo com um trem atravessando as minhas veias e a boca num travo. Hesito em iluminar o quarto, mas, quando o faço, a janela vazia convence-me do sonho. Pensando em matar a sede, abro a porta a tempo de ver o velho no final do corredor. Ele volta a cabeça para mim e me convoca, com o dedo indicador, entrando no último quarto. Eu recuso-me a segui-lo e, em vão, tento acordar da vigília.

Sem comentários: