terça-feira, julho 26, 2005

Inveja de todos

Ficaram meus dedos tateando o ar, a memória como sangue embaixo das unhas. Eu sou o homem que matou a criança. Um bebê lindo, saudável, inveja de todos e destinado, desde que dado à luz, à morte prematura por um mal inato. Mas a misericórdia não é alívio. Eu sou o homem que fez da beleza ruína, eu que fechei a janela ainda no sono das tardes. Eu que levo a noite nos bolsos como bolas de gude, para espalhá-las nas ruas, derrubando os cavalos. Eu que escarneço do amor a deus, por duvidar da sua reciprocidade, por não saber se minha existência lhe toca, ou concerne. Eu que sempre imaginei os anjos nunca estive entre eles. Eu, prodigioso criador de fantasmas, acrescento mais esse aos que fazem fila na porta da minha casa destruída.

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