segunda-feira, julho 18, 2005

Entre o pulmão e a boca

Num quarto selado de escuro, o homem abraçado às pernas dobradas renova o grito, mas a voz lhe sumiu há anos. Quem vai escalar as palavras mais imponentes e fincar-lhes bandeiras aos cumes? Quem vai atravessar o tempo em saltos sobre as pedras em movimento? Quem vai confidenciar à mulher, que de colchão tornou-se clava, as lascas em espiral que sobraram da verdade talhada, o labirinto da noite entre os mortos? Quem, abraçado aos anos num quarto fechado, encontrará novamente a ponte do som e se fazer escutado? Ninguém. Pois o escuro tem o peso de uma frase em punhal e afoga, como a água plenificando o caminho entre a boca e o pulmão. À porta ninguém veio, nem virá. O quarto é um caminho que não saiu do lugar, é o tiro de largada que não explodiu. O homem - os olhos abertos? - sonha consigo. No sonho, é uma criança de olhos fechados, acariciando a fronte de uma fera em posição de ataque. Morde o lábio até o sangue, sem conseguir alertar a si mesmo sobre o perigo.

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